Automutilação: Causas, Impactos Psicológicos e Como Lidar com o Problema

Fevereiro 15, 2025
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Gery Kiffen

A automutilação é um tema delicado e muitas vezes incompreendido. Para quem nunca passou por isso, pode ser difícil entender por que alguém sentiria necessidade de se ferir. No entanto, para aqueles que lutam com este problema, a automutilação pode parecer a única forma de lidar com emoções avassaladoras.

Mas quais são as causas deste comportamento? Porque é que tantas pessoas, especialmente adolescentes e jovens adultos, recorrem à dor física para aliviar o sofrimento emocional? Neste artigo, vou abordar as causas da automutilação, os seus efeitos e as formas de buscar apoio para lidar com essa realidade.

O que é a Automutilação?

A automutilação, também chamada de autolesão, refere-se a qualquer comportamento intencional que cause dor ou ferimentos no próprio corpo sem intenção suicida. Os métodos mais comuns incluem:

  1. Cortes na pele com lâminas, facas ou outros objetos afiados.
  2. Queimaduras com cigarros, fogo ou líquidos quentes.
  3. Bater com força contra paredes ou objetos duros.
  4. Arrancar cabelos ou unhas compulsivamente.
  5. Provocar feridas repetidamente para impedir a cicatrização.

Embora a automutilação não tenha como objetivo a morte, pode levar a complicações sérias, incluindo infecções, cicatrizes permanentes e, em casos extremos, risco de vida. Além disso, a prática pode tornar-se um comportamento compulsivo e difícil de parar sem apoio adequado.

Principais Causas da Automutilação

A automutilação raramente ocorre sem um motivo. Normalmente, está associada a dificuldades emocionais e psicológicas. Eis algumas das causas mais comuns:

1. Alívio de Dor Emocional Intensa

Muitas pessoas recorrem à automutilação como uma forma de libertação. Quando as emoções parecem insuportáveis, a dor física pode criar uma distração temporária e até uma sensação de alívio momentâneo.

2. Sentimento de Vazio ou Desconexão

Algumas pessoas sentem-se desligadas da realidade ou de si mesmas. Nestes casos, a dor física pode funcionar como um “choque”, ajudando a pessoa a sentir-se presente e conectada ao mundo.

3. Autopunição e Baixa Autoestima

Quem luta contra sentimentos de culpa, vergonha ou autodepreciação pode usar a automutilação como uma forma de autopunição. Acreditam que merecem sofrer e recorrem a este comportamento para “castigar-se”.

4. Necessidade de Controle

Quando tudo parece fora de controlo, infligir dor a si mesmo pode dar uma falsa sensação de poder. Para algumas pessoas, a automutilação é a única área da vida onde sentem que têm algum domínio.

5. Influência Social e Exposição a Conteúdos Online

A exposição a grupos ou redes sociais que romantizam a automutilação pode influenciar o comportamento, principalmente em adolescentes vulneráveis. O desejo de pertencimento a um grupo pode levar alguém a adotar hábitos prejudiciais.

6. Problemas de Saúde Mental Subjacentes

A automutilação está frequentemente associada a transtornos psicológicos, incluindo:

  • Depressão
  • Ansiedade
  • Transtorno de personalidade borderline
  • Transtorno de stress pós-traumático (TEPT)
  • Transtornos alimentares

Se uma pessoa sofre de um destes problemas, a automutilação pode tornar-se um mecanismo de escape para lidar com a dor emocional.

Sinais de Alerta: Como Identificar Alguém que se Automutila?

Muitas pessoas que se automutilam escondem os seus ferimentos, tornando difícil para familiares e amigos perceberem o problema. No entanto, existem alguns sinais que podem indicar que alguém está a passar por esta situação:

  1. Feridas frequentes e inexplicáveis, especialmente nos braços, pernas ou barriga.
  2. Uso excessivo de roupas compridas, mesmo em dias quentes.
  3. Isolamento social e comportamento mais reservado.
  4. Mudanças bruscas de humor e dificuldades em expressar emoções.
  5. Coleção de objetos cortantes ou lâminas sem explicação.

Se notar estes sinais em alguém próximo, tente abordar o assunto com empatia e sem julgamentos.

Automutilação e Suicídio: Existe uma Ligação?

Embora a automutilação não seja um comportamento suicida, pode aumentar significativamente o risco de tentativas de suicídio no futuro. Isto porque a automutilação pode agravar sentimentos de desespero e inutilidade, levando a pensamentos mais extremos.

Se alguém que conhece está a automutilar-se e mostra sinais de depressão severa, é essencial procurar ajuda o mais rapidamente possível.

Como Procurar Ajuda?

Superar a automutilação não é fácil, mas é possível com o apoio certo. Aqui estão algumas formas de encontrar ajuda:

1. Procurar Ajuda Profissional

Um psicólogo ou psiquiatra pode ajudar a identificar as causas emocionais da automutilação e ensinar estratégias mais saudáveis para lidar com o sofrimento.

2. Terapias Alternativas

Terapias como mindfulness, arte-terapia e meditação podem ajudar a reduzir a necessidade de recorrer à automutilação.

3. Construir uma Rede de Apoio

Conversar com amigos, familiares ou grupos de apoio pode aliviar a solidão e a sensação de desespero. Saber que não está sozinho pode fazer uma grande diferença.

4. Desenvolver Estratégias Alternativas

Em vez de se magoar, tente encontrar formas menos prejudiciais de lidar com emoções fortes, como:

  • Escrever num diário para expressar sentimentos.
  • Praticar exercício físico para libertar tensão.
  • Apertar um cubo de gelo na mão para simular dor sem ferimentos.
  • Usar técnicas de respiração para acalmar a ansiedade.

A Recuperação é Possível

A automutilação é um comportamento preocupante que não deve ser ignorado. Se você ou alguém próximo está a passar por isto, lembre-se de que há alternativas para lidar com a dor emocional. O primeiro passo para a recuperação é reconhecer o problema e procurar ajuda.

A jornada pode ser difícil, mas com o apoio certo, é possível superar este desafio e encontrar formas mais saudáveis de enfrentar as dificuldades da vida.

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Referências

  • Sociedade Portuguesa de Suicidologia (SPS). (s.d.). Prevenção da Automutilação e do Suicídio. Disponível em: https://www.spsuicidologia.pt
  • Direção-Geral da Saúde (DGS). (2021). Plano Nacional de Saúde Mental 2021-2030. Disponível em: https://www.dgs.pt
  • Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP). (s.d.). Guia de Saúde Mental para Jovens. Disponível em: https://www.ordemdospsicologos.pt
  • Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV). (s.d.). Apoio Psicológico para Jovens em Sofrimento Emocional. Disponível em: https://www.apav.pt

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