Os Impactos da Solidão na Saúde e a Escolha de Não Ter Filhos

Fevereiro 16, 2025
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Gery Kiffen

A Solidão e os Seus Impactos na Saúde

A solidão é um problema crescente e pode afetar qualquer pessoa, independentemente da idade. No entanto, os idosos são o grupo mais vulnerável. O aumento da esperança média de vida, aliado a fatores como o afastamento familiar e a urbanização, tem contribuído para um número cada vez maior de pessoas a viver sozinhas e a sofrer com o isolamento social.

Em Portugal, o Instituto Nacional de Estatística (INE) aponta que mais de 20% da população vive sozinha, e esse número aumenta significativamente entre os idosos. O envelhecimento populacional torna este problema ainda mais preocupante, já que um grande número de pessoas idosas vive sem uma rede de apoio próxima.

Estudos indicam que a solidão pode ter impactos devastadores na saúde física e mental. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC), o isolamento social pode:

  • Aumentar em 50% o risco de demência
  • Elevar em 32% o risco de AVC
  • Aumentar em 29% o risco de doenças cardíacas
  • Contribuir para maiores taxas de depressão e ansiedade
  • Reduzir a esperança média de vida, com um impacto semelhante ao tabagismo ou à obesidade

Além dos impactos diretos na saúde, a solidão afeta a qualidade de vida, tornando as pessoas mais vulneráveis a doenças e ao declínio cognitivo. Sem interações sociais frequentes, o cérebro tende a perder estímulos essenciais para a sua manutenção, acelerando o processo de deterioração mental.

A falta de contacto humano e de apoio emocional pode também levar a comportamentos pouco saudáveis, como o sedentarismo, a má alimentação e o abuso de álcool ou medicamentos.

O Crescimento do Movimento Sem Filhos

Paralelamente ao aumento da solidão, uma outra tendência tem-se destacado: a escolha consciente de não ter filhos. A taxa de natalidade em Portugal tem vindo a cair há décadas, e cada vez mais casais e indivíduos optam por não ter descendência.

De acordo com o INE, Portugal tem uma das mais baixas taxas de fecundidade da Europa, com 1,4 filhos por mulher, um número insuficiente para a renovação geracional. Além disso, o número de mulheres que chegam à idade fértil sem ter filhos triplicou nos últimos 20 anos.

Os fatores que influenciam esta decisão são diversos:

  • Desafios Económicos: O custo de vida elevado, os baixos salários e a dificuldade em aceder a habitação são obstáculos para quem gostaria de constituir família.
  • Insegurança no Mercado de Trabalho: Muitos jovens enfrentam empregos precários, contratos temporários e dificuldade em equilibrar vida profissional e pessoal.
  • Mudança de Valores e Estilos de Vida: A sociedade tem vindo a aceitar novas formas de vida que não incluem necessariamente a parentalidade. A liberdade e o foco na carreira são prioridades para muitas pessoas.
  • Falta de Apoios para Pais e Mães: A ausência de políticas eficazes de apoio à família, como creches acessíveis e horários de trabalho flexíveis, desmotiva muitos casais a terem filhos.
  • Aumento do Número de Pessoas Solteiras: O casamento e os relacionamentos duradouros estão a diminuir, o que reduz as taxas de natalidade.

A tendência de não ter filhos não é exclusiva de Portugal. Nos Estados Unidos, por exemplo, 21,64% dos adultos do estado de Michigan não têm filhos, refletindo um padrão semelhante ao do resto do país. No Canadá, uma em cada cinco mulheres não terá filhos ao longo da vida.

Se esta tendência continuar, o impacto será sentido não só a nível individual, mas também na economia e nos sistemas de segurança social, uma vez que a diminuição da população ativa pode comprometer o financiamento das pensões e dos serviços públicos no futuro.

A Pressão Social Sobre Quem Escolhe Não Ter Filhos

Apesar de a escolha de não ter filhos ser legítima, muitas pessoas sem filhos continuam a enfrentar comentários depreciativos e pressão social. Existe ainda a ideia de que a parentalidade é um caminho obrigatório na vida adulta, e aqueles que escolhem um percurso diferente são frequentemente julgados.

Muitas mulheres relatam que são questionadas constantemente sobre quando terão filhos, como se a maternidade fosse uma obrigação e não uma escolha. Além disso, há o estigma de que quem não tem filhos será infeliz ou terá uma vida vazia na velhice.

No entanto, estudos demonstram que a felicidade e a realização pessoal não dependem da parentalidade, mas sim de fatores como o equilíbrio emocional, a qualidade dos relacionamentos e a satisfação com a própria vida.

A Relação Entre Solidão e a Escolha de Não Ter Filhos

A solidão e a diminuição da natalidade estão interligadas de diversas formas.

Por um lado, muitas pessoas sem filhos podem sentir um maior risco de isolamento social na velhice, já que não terão descendentes diretos para lhes oferecer apoio. No entanto, ter filhos não é garantia de companhia ou suporte, pois muitas famílias vivem afastadas geograficamente e nem sempre mantêm relações próximas.

Por outro lado, o aumento da solidão pode ser uma das razões pelas quais muitas pessoas escolhem não ter filhos. A falta de uma rede de apoio, o medo de não conseguir equilibrar a parentalidade com outras responsabilidades e a ausência de um parceiro estável são fatores que pesam na decisão.

O que se pode concluir é que tanto a solidão como a opção de não ter filhos são fenómenos sociais complexos que exigem uma reflexão mais profunda.

A solidão e a diminuição da natalidade são desafios significativos para a sociedade portuguesa. O isolamento social tem impactos severos na saúde e qualidade de vida, enquanto a tendência de não ter filhos transforma a estrutura demográfica do país.

Embora cada indivíduo tenha o direito de escolher o seu próprio caminho, é essencial que existam políticas públicas que incentivem a inclusão social, ofereçam melhores condições de trabalho e criem um ambiente favorável para quem deseja ter filhos.

Ao mesmo tempo, a sociedade precisa de abandonar preconceitos e aceitar que a felicidade e o bem-estar não dependem de um único modelo de vida. Afinal, seja com ou sem filhos, o mais importante é que cada pessoa possa viver de forma plena e satisfatória.

Referências

  • Serviço Nacional de Saúde (SNS24) – Impacto da solidão na saúde
  • Instituto Nacional de Estatística (INE) – Envelhecimento da população portuguesa
  • Expresso – Queda na taxa de natalidade em Portugal
  • Observador – Mais de 40% das mulheres portuguesas em idade fértil não têm filhos
  • Organização Mundial da Saúde (OMS) – Efeitos do isolamento social na saúde

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